A conversão a Cristo – abordagem ecológica e pastoral
Carta Pastoral para a Quaresma de 2020
A Quaresma começou na quarta-feira passada, «Quarta-Feira de Cinzas», e termina na noite da Páscoa. O objetivo da Quaresma é preparar-nos para as festividades do Triduum Pascal e unir-nos mais profundamente a Jesus Cristo, o crucificado, o ressuscitado.
É possível que nos tenhamos afastado do Senhor como resultado do “stress” e da ansiedade que marcam cada vez mais as nossas vidas diárias.
A Quaresma é o momento privilegiado do ano que melhor identifica a nossa identidade cristã. Somos convidados a voltarmo-nos com mais determinação para Jesus, ouvindo a Sua Palavra e colocando-a em prática nas nossas vidas. Para lá chegar precisamos sempre de momentos de conversão. Aproveitemos as próximas seis semanas para nos abrirmos à Palavra de Vida de Jesus e dar um carácter mais concreto à nossa vocação cristã.
No início de outubro, depois do Consistório em que o Papa Francisco me nomeou cardeal, tive o privilégio de participar no Sínodo na Amazónia. O sínodo terminou com um pedido à conversão total. O documento final tem o subtítulo Novos caminhos para a Igreja e uma ecologia integral e aponta quatro tipos de conversão: pastoral, cultural, ecológica e sinodal. Com esta mensagem, gostaria particularmente de vos recomendar duas formas de conversão.
Conversão ecológica
Deus confiou-nos a Terra não para a explorar ou destruir, mas para cultivá-la e protegê-la com responsabilidade (Gn 2,15). Já em 2015, o Papa Francisco refere na sua encíclica Laudato si que tudo está ligado a tudo e que, portanto, ecologia e justiça social são fortemente interdependentes. É por isso que devemos estar cientes de que o nosso estilo de vida na Europa Ocidental corre o risco de esgotar a natureza à custa de muitas pessoas pobres e desfavorecidas.
Estamos a prejudicar o meio ambiente e estamos a contribuir para a exploração de países, ou de regiões como a Amazónia, através das enormes emissões de CO2, que a indústria e os sistemas de mobilidade estão constantemente a produzir, bem como pelo consumo excessivo de carne vendida a baixo custo, e da tecnologia.
Os países em questão são frequentemente ricos em madeira e em recursos minerais e sofrem com a ganância das multinacionais que os tornam cada vez mais pobres. Mesmo que não possamos mudar essa situação de um dia para o outro, somos desafiados, como Igreja, a nos posicionarmos claramente ao lado dos pobres e dos explorados. A nossa conversão ecológica pessoal e eclesial deve constituir um impulso para uma necessária mudança social, especialmente aqui no Luxemburgo.
É por isso que sugiro que avancemos nas seguintes direções:
Basear o nosso consumo em produtos provenientes do comércio justo, não desperdiçar nada, e, algumas vezes, renunciar a alguma coisa pensando naqueles que não podem pagar esse luxo.
Ao organizar o nosso estilo de vida, precisamos de pensar no clima e deslocarmo-nos da maneira mais ecologica possível: andar a pé, andar de bicicleta, aproveitar o transporte público, tudo isto são hábitos a recomendar sempre que possível. E depois há este gesto cristão: fazer uma boa obra com aquilo que economizamos.
Mais ainda: gostaria de vos recomendar que não comais carne às sextas-feiras. Ao não comermos carne à sexta-feira, durante o ano inteiro, estamos a sinalizar a nossa oposição à produção excessiva e a baixo custo de carne, que geralmente é suportada por seres humanos e animais em países pobres.
Por fim, gostaria muito de vos lembrar a oração à hora das refeições. Juntos, em família ou sozinhos, em casa ou noutro lugar, uma pequena oração antes da refeição, por exemplo: «Abençoai-nos, Senhor, abençoai esta refeição e aqueles que a prepararam», recordam-nos o privilégio que temos de comer todos os dias.
É por isso que devemos ser gratos e pensar naqueles que têm muito menos do que nós, e a quem Jesus Cristo ama do mesmo modo.
Estas três ideias estão diretamente ligadas às práticas cristãs da partilha, do jejum e da oração, que a Igreja nos recorda no início da Quaresma. Que eles caracterizem o nosso “Juntos fazemos Igreja” neste ano de Jubilar da nossa diocese.
A conversão pastoral
Na sua essência, a Igreja é uma Igreja missionária, sempre enviada aos homens. É por isso que nós, como Igreja, somos sempre desafiados a ousar seguir novos caminhos numa sociedade sempre em mudança.
Desde maio de 2017, as novas paróquias estão em vigor, o que exige uma verdadeira reflexão pastoral. Espero que, após três anos, gradualmente encontremos a nossa «casa» nestas novas paróquias.
É claro que tudo não está ainda perfeito, mas já foram feitos imensos esforços pelos nossos fiéis, que estão prontos para oferecer, a médio prazo, um futuro nas novas estruturas, para que nos sintamos na Igreja como em nossa casa.
Agradeço sinceramente a todos quantos estão envolvidos nos novos conselhos pastorais, no «Kierchefong», com os seus 33 conselhos de administração paroquial e as suas 106 novas fábricas da Igreja, e em muitos outros níveis paroquiais. Não podemos insistir no passado, mas devemos estar prontos para encetar novos caminhos.
Na vastidão do território amazónico, abordámos a «Pastoral da Visita». Connosco, especialmente nas zonas rurais, algumas aldeias raramente têm uma celebração eucarística, ou outra. O número de batismos, primeira comunhão e casamentos está a diminuir cada vez mais.
Nesta situação, as equipas pastorais, em união com os fiéis, são convidadas a refletir sobre quais as igrejas e as capelas que a comunidade ainda poderá manter no futuro. Embora a Igreja se envolva com toda a sua força no serviço de Deus e dos homens, não podemos continuar a cobrir todas as necessidades como antes. Claro que existem paróquias que se estendem por um território bastante grande de que resulta dificuldades culturais internas. Neste caso exorto-vos ainda mais ao “Juntos fazemos Igreja”, com respeito e solidariedade, caminhando todos na mesma direção.
Os idosos e doentes, bem como a pastoral dos jovens e a catequese das crianças, são as realidades que mais próximas estão do meu coração. Nessas áreas, é urgente recrutar novos colaboradores, quer sejam voluntários ou em regime permanente. Acompanhar os idosos e os doentes, as crianças e os jovens no seu caminho é, e continuará a ser, uma missão fundamental da Igreja.
Ao introduzir o “Domingo da Palavra de Deus” (3º domingo do ano litúrgico), o Papa Francisco lembra-nos até que ponto as Sagradas Escrituras são fundamentais nas nossas liturgias e nas nossas vidas para alimentar um relacionamento vivo com Jesus Cristo e entre nós. As novas abordagens pastorais conduzem-nos especialmente até às fontes da fé, conforme sugere o lema episcopal de nosso bispo auxiliar, Leon. Assim seremos uma Igreja missionária profundamente convertida a Jesus Cristo e que se preocupa com a “Casa Comum” de todos os homens.
Queridos irmãos e irmãs,
Durante esta Quaresma, aprofundemos o nosso relacionamento com Aquele com quem celebramos a Quinta-Feira Santa, a Sexta-feira Santa e a Páscoa, Ele que deu a vida por todos os homens.
Que a intercessão de Maria, Mãe do Salvador, e nossa Mãe, padroeira da cidade e do país, nos acompanhe neste Jubileu de 2020, e muito além.
Luxemburgo, 22 de fevereiro de 2020, na Festa da Cátedra de São Pedro.
+ Jean-Claude Cardeal Hollerich
Arcebispo do Luxemburgo
Esta carta pastoral é para ser lida durante as assembleias dominicais do 1° domingo da Quaresma de 2020.
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